RONDA
DA LAPINHA 2014
PROGRAMA
A Ronda da Lapinha é uma
manifestação de religiosidade popular e ao mesmo tempo uma expressão de
Património Cultural Imaterial.
O tema da chamada
religiosidade popular tem merecido a atenção de estudiosos, historiadores, sociólogos,
psicólogos, antropólogos, profissionais dos meios de comunicação, sacerdotes,
políticos, etc. Simultaneamente, tem havido pesquisas, exposições, seminários e
congressos para discutir, mostrar e expor os seus variados aspectos e os seus
objectos culturais.
O que mais impressiona
quando se olha para a religiosidade popular é a relação muito estreita que
existe sempre entre as suas variadas e complexas manifestações e o ambiente
sócio-cultural em que as mesmas se desenvolvem, o que normalmente não acontece
com as manifestações oficiais.
Outra característica
importante é que cada manifestação de religiosidade popular tem uma identidade
própria, que por vezes se afasta das regras dos sistemas religiosos oficiais.
O termo popular, quando é
usado para adjectivar a religiosidade, significa aquilo que é relativo e
pertencente ao povo, especialmente a gente mais simples, com pouca ou nenhuma
instrução. Algo que pertence à população mais rural, por oposição ao que é
valorizado pelas camadas citadinas ou mais privilegiadas da população.
A Ronda da Lapinha é uma
manifestação cuja génese se encaixa perfeitamente neste perfil, mas para além
disso é também uma expressão de Património Cultural Imaterial, ou património
intangível, na medida em que é uma expressão cultural de uma vasta camada da
população dos concelhos de Guimarães, Fafe, Felgueiras e Vizela, que se tem
preservado, mantido e transmitido ao longo de 4 séculos.
Acresce, ainda, que a Ronda da Lapinha, pelas suas
características religiosas, sociais, culturais e antropológicas, é um evento único
no mundo e como sabemos, na época em que vivemos a nossa competitividade passa
por apostar naquilo que for simultaneamente autêntico e diferente.
A Ronda da Lapinha é um
evento antigo, já acontece há mais de 400 anos.
A Ronda da Lapinha percorre
território de 14 freguesias deste concelho, a saber: Calvos, Infantas, Costa,
Mesão Frio, Azurém, Oliveira do Castelo, S. Paio, S. Sebastião, Creixomil,
Urgezes, Polvoreira, Tabuadelo, S. Faustino e Abação.
A Ronda da Lapinha é a única
manifestação religiosa do concelho de Guimarães que atravessa as 3 freguesias
da cidade, que hoje constituem uma União, e ainda, as principais freguesias
urbanas envolventes da Cidade, como Costa, Mesão Frio, Azurém, Creixomil,
Urgezes e Polvoreira.
Por isso, a Cidade de
Guimarães não pode continuar a olhar para a Ronda da Lapinha como um evento
doméstico, paroquial, ou seja, como uma manifestação apenas destinada ao
público Calvos e suas redondezas.
De uma vez por todas a Cidade de Guimarães tem de
assumir que a Ronda da Lapinha é um evento em que a cidade e uma boa parte do
concelho se inclui e, portanto, um evento com interesse turístico religioso,
com todas as consequências deste postulado.
Julgo que a presença hoje,
aqui, do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Guimarães é um sinal
inequívoco de que o Município faz esse reconhecimento.
Mas para se poder afirmar
como evento de interesse turístico, é necessário criar uma programação para o
evento em que os próprios turistas se sintam participantes activos e não meros
espectadores, porque é sabido que um evento como a Ronda da Lapinha não tem
potencialidade para atrair público ou fiéis muito distantes de Guimarães.
Foi por isso que a Comissão
Administrativa da Irmandade de Nossa Senhora da Lapinha entendeu que fazia
sentido convidar a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré a vir até Guimarães com
a imagem peregrina de Nossa Senhora da Nazaré.
E em boa hora o fizemos,
pois constitui para nós uma grande honra podermos contar hoje aqui com a
presença do Senhor Dr. Walter Chichorro, Presidente da Câmara da Vila da Nazaré
e do Senhor Dr. Pedro Folgado, Presidente da Câmara de Alenquer, do Sr. Dr.
Nuno Batalha, Juíz da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, do Senhor Padre
Moisés, Reitor do Santuário do Sítio e do Senhor Jacinto Agostinho Presidente
da Junta de Olhalvo.
Creio que este facto é um
sinal inequívoco de que todos reconhecemos que, aquelas manifestações populares
de religiosidade popular que são expressão de PCI, como as nossas, Lapinha e
Nazaré, constituem um potencial turístico para as nossas terras e, por isso, um
importante elemento indutor de desenvolvimento económico.
Efectivamente, a principal novidade da edição
da Ronda da Lapinha deste ano tem a ver com a presença da imagem peregrina de
Nossa Senhora da Nazaré, venerada no Santuário do Sítio, daquela antiga, bela e
pitoresca vila marítima.
A veneração à imagem de
Nossa Senhora da Nazaré, esculpida em madeira, com cerca de 25 centímetros de
altura, representando Nossa Senhora sentada num banco a amamentar o Menino
Jesus, com as caras e as mãos pintadas de cor “morena” é coeva da nacionalidade
e é indissociável do episódio a que se convencionou chamar Lenda da Nazaré, que
consistiu no “milagre” que em 1182 terá salvado D. Fuas Roupinho de cair no
precipício do promontório do Sítio quando por ali cavalgava.
Segundo a tradição oral,
esta pequena imagem de madeira, que terá sido esculpida por S. José, sendo as
caras e as mãos pintadas mais tarde por S. Lucas, foi trazida no séc. V da
Galileia para um convento perto de Mérida e no ano de 711 terá viajado para o
lugar do Sítio, no promontório da Nazaré, onde continua a ser venerada.
Através dos séculos, a
devoção à imagem da Senhora da Nazaré espalhou-se pelo país e pelo estrangeiro,
sendo hoje o suporte do chamado Círio da Nazaré de Belém do Pará, na Amazónia,
Brasil, que é a maior manifestação de religiosidade popular do planeta.
No nosso país estão
implantadas diversas devoções à Senhora da Nazaré e, como exemplo, podemos destacar o Círio de
Olhalvo, uma peregrinação anual que a população de Olhalvo, freguesia do
concelho de Alenquer faz todos os anos ao Santuário da Nazaré, iniciada no ano
1502 e que se mantêm até aos nossos dias sem qualquer interrupção, constituindo
a mais antiga tradição do concelho de Alenquer.
A Irmandade de Nossa Senhora
da Lapinha introduziu nas duas últimas edições da Ronda da Lapinha (anos 2012 e
2013) uma cerimónia inovadora que registou um enorme sucesso, não só no
capítulo religioso, como também no plano meramente profano, desde logo pela
mobilização de três dezenas de milhares de fiéis no Largo do Toural em 2012.
Trata-se de uma cerimónia
que se tem designado de Clamor Solene e que tem contado com a participação ou
colaboração de algumas associações de fiéis (Irmandades ou Confrarias)
responsáveis pela gestão de Santuários ou Igrejas onde se registam venerações
tradicionais de Nossa Senhora.
Na edição de 2012 estiveram
presentes as imagens das venerações correspondentes à lenda das 7
"irmãs" (Nossa Senhora da Oliveira, Nossa Senhora da Madre-de-Deus,
Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora da Abadia, Nossa Senhora do Alívio e
Nossa Senhora dos Milagres, em substituição de Nossa Senhora das Dores)) e na
edição de 2013 esteve presente a imagem peregrina de Nossa Senhora da Lapa,
venerada na freguesia de Quintela, concelho de Sernancelhe.
Toda a movimentação religiosa que se operou na cidade de Guimarães no
decorrer destas duas edições, designadamente as procissões com as imagens em
andores desde as várias Igrejas onde foram veneradas até ao Largo do Toural,
proporcionou um ambiente de religiosidade popular e misticismo que tornou a
cidade de Guimarães como um palco privilegiado para em cada ano mostrar nas
suas Igrejas e ruas, exactamente no dia da Ronda da Lapinha, ou seja, no
domingo mais próximo do solstício de verão, a riqueza e singularidade da
religiosidade popular portuguesa e do património cultural imaterial que lhe
está associado.
É portanto nosso desejo que
a cidade de Guimarães se converta em cada terceiro domingo de junho num
verdadeiro Ponto de
Encontro da Religiosidade Popular e Património Imaterial e que este
evento se vá afirmando, ano após ano, como uma montra não só a Ronda da
Lapinha, mas toda e qualquer manifestação religiosa com origem em qualquer
parte do país ou no estrangeiro, que por força das circunstâncias ou das
oportunidades lhe possa ser associada nesse dia.
Da programação da Ronda faz
parte uma Missa Solene presidida pelo Senhor Cónego José Paul Abreu, Vigário
Geral.
Como é habitual, a procissão
de penitência sairá do Santuário da Lapinha às 13 horas em ponto para percorrer
a primeira etapa de 9 quilómetros entre a Lapinha e a Igreja de Nossa Senhora
da Oliveira;
A chegada ao Largo da Oliveira
e a entrada na Igreja costumam acontecer pelas 16 horas.
Por seu turno a imagem de
Nossa Senhora da Nazaré será venerada aqui na Igreja de S. Francisco, onde
chegará no dia 15, pelas 12 horas, antes da Missa dominical das 12.30 horas.
Pelas 16 horas de domingo a
imagem de Nossa Senhora da Nazaré sairá em procissão até ao Largo do Toural,
onde será venerada com orações e cânticos.
Pelas 16.45 sairá da Igreja
da Oliveira o andor com a imagem da Senhora da Lapinha para iniciar a segunda
etapa da Ronda, mas parará no Largo do Toural até às 17,30 horas.
Depois de se encontrarem lado a lado as veneráveis imagens de Nossa
Senhora, será então proferido um Clamor Solene pelo sucesso do pontificado do
Papa Francisco.
De resto, em todo o percurso
de 21 quilómetros serão rezadas 1000 avé-marias por intenção das preocupações actuais do Papa Francisco.
Para melhor concretizar este
objectivo serão colocados pendões em cada quilómetro da Ronda anunciando a
intenção concreta de cada terço, 20 no total.
Podemos anunciar que teremos o patrocínio das Águas
da Penha para o fornecimento de um kit de garrafas de água em cada quilómetro,
que será colocado junto do respectivo pendão, para que os peregrinos penitentes
se possam hidratar.
No Largo do Toural será
cantada uma melodia litúrgica dedicada ao Papa Francisco, com o título CLAMOR
PELO PAPA FRANCISCO, cujas estrofes serão cantadas pelo Neno, ex-futebolista e
o refrão cantado por um coro, a 3 vozes.
Está a ser preparada a
gravação em estúdio desta melodia, para ser enviado ao Papa Francisco o
respectivo CD.
O CD será acompanhado de uma
lembrança de Guimarães que a Câmara Municipal vai ofertar.
Seguirá também uma mensagem
para S.S. o Papa Francisco que a cidade de Guimarães lhe vai oferecer esta
grinalda espiritual de 1000 Avé–Marias, rezadas numa jornada contínua de 21
quilómetros, que o Senhor Arcebispo de Braga classificou de Meia Maratona da
Fé.
Florentino Cardoso